domingo, 28 de março de 2010

Conversão

















Como o orvalho surge na manhã
lágrimas deslizam pelo meu rosto
Um pecado do coração é deposto
Uma alma se torna sã


Tu tens o cheiro puro das maçãs
A vida mundana tem gosto
de mel amargo e tosco
Sua filosofia é vã


Estar contigo, é ter uma nova vida
É ser um novo ser
Um novo sol para me aquecer


e lágrimas que suavizam minhas feridas
Oh! Deus vem me converter
e dar em cada dia uma nova vida.


Henrique Rodrigues Soares

Sociedade















O mundo com tantas pessoas
aglutinadas em sociedades.
Sociedades de todos os gostos,
de todos os tipos, algumas até secretas.
Tão desejos em comum.
Tantas coisas em comum.


O dia a dia não tem personalidade.
Indivíduos e mais indivíduos
se atravessam com seus rostos
tão maquiados e sem identidade.
O vaivém das avenidas...
Um trânsito de perdidos e ausentes
numa antropologia pré-histórica.


O homem atual é tão egoísta
como do passado
buscando satisfazer a sua gula
de saber, de comer, de se entorpecer.
Entorpecer é um verbo bem atual.
Pois todos estão entorpecidos de alguma coisa.


Estou no meio de um mundo
cercado de gentes e até indigentes...
mas não consigo me comunicar...
não consigo me expressar...
estou sozinho com toda escuridão
dos indiferentes... dos diferentes...


O mundo e suas línguas,
dialetos e sotaques.
Falamos muito sem sermos entendidos.
Linguagem verbal e os símbolos,
o conhecimento e os signos,
as vestes e os costumes
que ditam nossa tribo
e ao mesmo tempo toda nossa esquisitice.


Falei de tantos lugares comuns.
E continuo sozinho.
Tenho amigos, tenho amores.
Tenho os que me servem.
Tenho os senhores,...
e não tenho nada...
Apenas uma solidão crua e concreta.


Henrique Rodrigues Soares

Assalto















Ontem, vi um rosto que nunca mais quero ver
Ontem, vi um rosto que nunca mais lembrarei
Rosto imóvel... Corpo imóvel...
Uma bomba pulsante no peito, um coração na mão pronta a explodir
O coração da bomba pulsante que há dentro do peito do morto que ainda não morreu.


Vejo sinais de resistência
Vejo um corpo que não quer anoitecer
Vejo relógios, pulseiras,... se indo de tristeza
O menino apanha emprestado o que o mundo não o concedeu.


Henrique Rodrigues Soares

terça-feira, 23 de março de 2010

Os Cleptomaníacos




















Cadê meus heróis branquelos e fracos
tão frascos, que viraram pó
Cadê nossos monarcas inúteis e apáticos
tão insensatos, suas cabeças dando nó
Cadê nosso amor sorumbático
que no Mar Báltico se dissolveu
Cadê nosso sonho estático
tão fático que morreu


Cadê nossos paladinos armados
tão obcecados por matar
Cadê o pó batido e inalado
compenetrado, p'ra te endireitar
Teus direitos são pecados
captados, pelo desejo de errar
A propaganda tem te aniquilado
você tem comprado tudo que ela falar


Não iluda, não engane
deixe a pedra rolar
Não minta, não ame
deixe de profanar


Cadê teus deuses indolentes
inconsequentes, que te deixam naufragar
Cadê teus detergentes
impotentes, que te querem limpar
Cadê teus amigos influentes
rios fluentes p'ra você navegar
Cadê teus remédios doentes
usados frequentemente p'ra morte agravar


Cadê seu povo fantoche
falo sem deboche, pois não consigo enxergar
Cadê aquele teu broche
desabroche o orgulho no teu olhar
de ser mais um hipnotizado
inutilizado biologicamente em conservação
espécie extinta
faminta por percepção


De preto e branco
hoje televisores são às cores
Beijos técnicos
traições indolores
O amor é feito de tranquilizantes
e buquet de flores.


Henrique Rodrigues Soares

sábado, 20 de março de 2010

O Romântico




















És tão simples, ao mesmo tempo tão profundo
Escondes a tristeza do desencontro
Escondes o solitário descontentamento
Com tanto amor no peito procura quem te ama


A liberdade quer fluir em teu corpo
A vida parece ser tão limitada para teus sonhos
Você quer parar o relógio...
E o relógio continua te levando sem você querer ir


A tua procura segue pela noite,
pelas ruas, pelos becos da escuridão
As pessoas não te entendem
Elas te observam, te julgam
com seus olhos preconceituosos
com olhos burocráticos.


Henrique Rodrigues Soares - A Natureza das Coisas
Ao meu amigo Poeta Silvio.

Até mais!...




















Hoje, um daqueles dias tristes
Que não vou querer lembrar
Que não consigo esquecer


Menos de um ano foi Daniel
O Pará, o santista, o mecânico
Tão forte e invencível
Vencido pelo inimigo orgânico
que se criou dentro da própria fortaleza


Agora choro baixinho
pelo Baixinho, o Nivaldo
o que jogava bola
o que caçava passarinhos
o inventor
o mais animado


Nunca levaram vida a sério
Magoaram e alegraram
a todos que tiveram prazer de tê-los conhecido
Foram inéditos, impossíveis de copiar
Contavam estórias e foram personagens
de uma estória que ficou no passado
Minha bela infância
em que não tínhamos nada
mas tínhamos tudo
Foram um capitulo do meu livro
Pois seus livros terminaram de serem escritos.


Mas deixaram em nosso meio
sua herança.


Henrique Rodrigues Soares
Aos meus tios Daniel e Nivaldo - 20/07/2009

sábado, 13 de março de 2010

O Maná da Vida















num mar de dores te afogaste
não sabes tu, que são elas que te mantém
como uma energia, uma força do além
sacia tua sede nas lágrimas que escoaste


de teus olhos que em contraste
com o feio, se eterniza e brilha
como um nascer de um filho ou uma filha
são tesouro que por toda vida caçaste


não fuja da madureza
pois as dores estão em toda parte
e são símbolos da nobreza
que moldam o objeto de arte


até as rosas da pureza
tem espinhos em sua carne
para que o egoísmo da realeza
não revele em seu caule.


Henrique Rodrigues Soares

Quadros de Parede
















Entra ano, e sai ano
estão ali na parede
não envelhecem, não criam rugas
O mesmo sorriso empoeirado


Sempre altivos
no nascer e no cair do dia
não dormem, não reclamam
dos cupins que roem sua inocência
Imóveis, riem da alegria e da desgraça dos vivos.


Henrique Rodrigues Soares

Feliz Aniversário
















Parabéns! Fluminense
Parabéns! Torcida Tricolor
Uma paixão nascida no irreal da emoção
Um canto inspirado na tradição
de um povo acostumado com conquistas
Muitas vitórias nesta canção.


Teus rivais te respeitam
quer na dor ou na alegria
Pois de glória viveram
a maioria dos teus dias
Mas há dias tristes e perdidos
em que derrotas ficamos feridos
pois nascemos para vitoriosos
até quando somos vencidos.


Neste 21 de Julho, grande guerreiro
o mais legitimo dos brasileiros
olha para teu povo com suas bandeiras
este orgulho em rosto, em fileiras
"de quem espera sempre alcança"
Pavilhão da Esperança!
Receba nossa saudação.


Henrique Rodrigues Soares

Antes de três meses...




















Semente de Amor
guardado no ventre
calado, formado em silêncio
na madre daquela que sente


Nem se mostrou, já é conhecido
não precisou fazer nada para ser amado
foste abençoado antes de nascido
nascerás como um abençoado.


Antes, de seus ossos formados
teu pai, tua mãe o tem recebido
em seus corações e, em seus abraços
na vontade de Deus. Seja bem-vindo!!


Henrique Rodrigues Soares
Poesia feita antes do nascer do Fernando Henrique Moura Soares

Poema de final de livro




















Na vida medito
não me acho
Na vida, maldito
me calo


Como queria
minha vida um riacho
que passa ligeiro
como quem dar passos largos
sem olhar para trás


Não me contenho
não me detenho
pois não posso me aguentar
sou demais para mim mesmo


Na vida recito
um poema sem fado
se quase sempre repito
não sou inédito no que faço


sem preço, sem recibos
sem palavras, sem recados


Não tenho mais nada para falar
Por isso vou me calar
por instantes.


Henrique Rodrigues Soares

Pesadelo




















Pobre, homem do campo
com seus sonhos de campo
Sonhos verdes que pastam suavemente no seu interior
Esperançosos em preservar a terra
no seu estado puro virginal
sem lhe tirar uma gota
gota de sangue clorofilado


E o homem urbano
assassino que destrói
sangrando a terra que não é sua
para construir seus sonhos urbanos de grandeza e poder
Sonhos doces
que com o tempo tornaram-se amargos pesadelos.


Henrique Rodrigues Soares

A teoria dos problemas dos problemas















A vida sem problemas é tediosa
Problemas demais matam
Não adianta querer
Este mar não secará


Você está caindo num abismo profundo
não adianta formulas mirabolantes
você não conseguirá ser um super homem
Você é um tetraplégico
braços e pernas inutilizados por você mesmo.


Henrique Rodrigues Soares

Viciado em injetáveis




















Ah! nessas veias este sangue quente
Tu com este líquido frio ardente
A teu cérebro parece florescente
Mas depois, são só sobras, deprimentes


Mentiroso, diz que isto é semente
da dor, que teu corpo, tua alma domina
Por isso busca esta dor que te fascina
Pobre... louco... híbrido... doente


Prazer rápido que ilude
no brilho seco de suas agulhas
Procura liberdade em pequenas fugas
da própria prisão que criaste


Leproso, escravo da seringa
Tua heroína te destrói
Num conforto que perturba
Num veneno que te amotina.


Henrique Rodrigues Soares

Rotina















Há dias que acordo sem vontade de nascer
Há dias que vitórias nos fazem perder
Me sinto abortado depois de envelhecer
Sinto meus olhos escurecendo, sinto o fenecer


Sinto o desânimo meu corpo alugar
Num contrato longo sem idéia de mudar
Vida de rotinas, cigarro na boca
a suspirar pela nicotina que guarda a forca.


Henrique Rodrigues Soares

domingo, 7 de março de 2010

Gigante de Mármore
















A solidão fria
adormece como o mármore
as luzinhas das casinhas, lá longe
tinam nos meus olhos
sinto necessidade de ficar sozinho
sinto necessidade de alguém que fique comigo
mas, me deixe sozinho


Olho para o outro lado
e vejo uma escuridão infinita
queria apalpá-la, mas não posso
queria nadar, voar e me compenetrar nela
mas não posso.
Então olho para mim
um pequeno ponto perdido
sem ninguém calado
sinto o coração se libertar
como quem quer paz
fugindo do meu corpo
saindo pela pele, pela boca.


Olho de volta para as luzinhas
elas continuam acesas, paradas
o meu corpo está tremulo
sinto me sozinho
sem horizontes e sem verdades
sozinho!
Eu e a noite fria
de mármore.


Henrique Rodrigues Soares

Ao Herói dos Rissos




















Caráter sóbrio e benquisto
Herói que foi para teus filhos
Patriarca de família amada
Vestiste bem tuas fardas


Aquela azul cor de Rio de Janeiro
que usaste por inteiro
Como romano honraste a instituição
humano, cumpriste tua missão


A farda tricolor vestiu
com ardor orgulhoso e febril
nada nos economizou em ensinar
com aqueles que tiveram o prazer de conversar
com a sensatez e seriedade do teu falar


Pensou, teu inimigo que te calou
a voz que na covardia te tirou
Mas teu olhar paterno nos ficou
como essas palavras que nos faltam


Choramos lágrimas de despedida e de dor
da saudade de ti guerreiro tricolor
Mas um dia nos encontraremos
Lá no seio do Criador.


Henrique Rodrigues Soares - 19/06/2009
Ao Sr. Maurílio Risso - Um dos maiores patriarcas que conheci

O Amor através dos Tempos
















Rostos perdidos no passado
cartas misteriosas
que de tão lidas
não escondem mais segredo algum.


Cadê aquele cachorrinho?
aquele cachorrinho que destruía calçados
pulava, corria de língua de fora
agora, ele quase não existe
está velho e cansado
sem aquele brilho mimado
hoje, ele se arrasta pelo chão.


Não caça mais a vida como ela é
pura e selvagem
cheia de espinhos e folhagens
pois tem medo de se machucar.


O cachorrinho está tão triste
ele não corre, não pula mais
não abana o rabo
cadê o seu olhar feliz?
não existe mais
seus pêlos estão caindo
e da sua auto estima apenas sobrou
um resto de ossos
e um pedido de compaixão.


Henrique Rodrigues Soares

sábado, 6 de março de 2010

Beijo de Judas




















A laje fria adormecida onde repousa teu corpo
está calada diante da tua estupidez
Teu corpo está velho e feio
já não produz bons frutos
Teus pensamentos cheiram mal
A terra onde pisa está estéril


Os homens e seus falsos juramentos
os homens e suas teorias mentirosas
os homens e suas lamentações eternas
os homens e seus beijos de morte


A cidade está vazia
um assassino anda à solta
ele fala pouco
e mata com poucas palavras


Respiramos um ar morto
que tem matado nossos pulmões
Ouço alguns passos
o cheiro da morte está em todo lugar
Minha necrotopólis dorme
e suas armas descansam
e seu sangue silencia os corpos.


Henrique Rodrigues Soares

Vigília




















A noite vem chegando
com sua escuridão
as ruas vão morrendo
as casas adormecendo
cães passeiam pelo silêncio
estrelas assistem
caladas
o desfile
do silêncio
que fascina
que assombra


Ali, bem perto
ruídos de vida
ruídos de morte
se encontram
trafegam no silêncio
e na escuridão
bocas famintas
se calam
em trégua
até o amanhecer
romaria de zumbis
embebidos pela noite
viciados pela noite
andam sem parar.


Henrique Rodrigues Soares