sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Necessidades da Vida




















Acabou-se o brilho, perdeu-se o encanto
Na perda do teu sorriso descrevi meu pranto
Fiquei como a flor murcha sem perfume
Do meu sarcasmo construí meu estrume
em que me deitei e vi nascer
raízes e bichos


Te falei um dia
da pureza das crianças
Te falei um dia
da pureza dos teus olhos
Mas não falei da chuva fina
que suaviza nosso ódio
Não falei da dor de ver um amigo destruído
Não falei do desespero e da dor do fim


Ao tentar a morte precoce, me encontrei
Longe de ti minhas lágrimas chorei
E nas minhas lágrimas afundei meu corpo
Preciso te falar... Preciso te falar...
Dos sonhos de criança, da brisa marítima,
da serenidade celeste, da força da terra
e da inquietação humana
Preciso te falar...
Dos espíritos que andam pelos corpos
indo e vindo sem fiscalização
Preciso te falar...
Dos Casmurros, Paulos, Estácios,
Fernandos, Betos que há dentro dos homens
Preciso te falar...
Da insegurança que faz tremer o corpo
e estrangula nossa fé


Preciso me soltar das correntes de ar
Preciso me soltar do sangue e da carne
Preciso me soltar do tempo
Preciso me soltar dos fantasmas
que habitam na casa vazia


Eu quero o oxigênio puro
que saí da tua boca
Quero tua palavra precisa
que coagula meu sangue
Quero minha rosa cândida
do meu jardim perdido.


Henrique Rodrigues Soares

O silêncio do Poeta




















Não existe mais uma palavra para ser dita
Mais uma frase bombástica para você proferir
Os sonhos se diluíram na TEMPESTADE


Tua alma perdeu a vaidade
a tua língua sagacidade
HÁ TEMPOS tinha visto
o TEMPO PERDIDO desta geração


Cantou... encantou esta LEGIÃO URBANA
Procurou... perdeu-se, pois O EQUILÍBRIO estava DISTANTE
Perguntou QUE PAÍS É ESTE?
Falou de ÍNDIOS, amor e solidão
Falou de MENINOS E MENINAS
Falou de PAIS E FILHOS


Nunca mentiu se achando o dono da PERFEIÇÃO
Apenas queria mostrar o FAROESTE CABOCLO que é este Brasil
Dançou a DANÇA neste MUNDO TÃO COMPLICADO
Esperou ser assassinado pelo silêncio da poesia


Tua morte me dói, como dói...
Pois para mim e para muitos
AINDA ERA CEDO
para você partir.


Henrique Rodrigues Soares - 12/10/1996

A última dose do cálice negro

























Não preciso dizer
minha cara
palavras caras
palavras raras
vem ao teu ouvido


nada é permitido
tudo é permissivo
o pecado inibido
num sorriso comprometido
com o mal


te assusta o silêncio
da madrugada
a tua boca
a tua alma ressecada
ressentida
pela saliva
que escorre na boca dos cães


o teu corpo uma folha
sem árvore, sem raízes
não há mais escolhas
ou diretrizes
para seguir.


Henrique Rodrigues Soares

Flores




















Estou quase só
me resta à solidão engarrafada
angustiosa companheira
de doses solitárias
Tropeço nas minhas dores... tropeço nas flores
Flores fêmeas, flores plantadas por mim mesmo
enraízam e dominam o interior do meu quintal


Meu quintal está sujo
Meu quintal está tenso
As flores morreram sufocadas
e agora lamento
seus restos mortais.


Henrique Rodrigues Soares

Saudações as Torcidas

























Camisa Doze corintiana
Camisa Doze colorada
FICO, Guerrilha Jovem e Raça Gremista
Vibração infinita, alvinegros, rubro negros e tricolores
festival de cores e cantos


Gaviões da Fiel, Independente,
TUP, Mancha Verde,
Fúria do Paraná, Inferno Verde,
Fúria bugrina, Império Alviverde,
TJB ou Jovem Fla
Alianças, rivalidades
lutas e paixão


Gaviões Alvinegros, os Fanáticos,
Galoucura, Força Jovem vascaína,
Raça Fla, Mancha Azul, Força Flu,
Jovem da Ponte, Máfia Azul, YOUNG FLU
Ninguém pode parar...
Ninguém pode calar...


Sangue Jovem, Jovem santista,
Leões da Fabulosa, Jovem Gremista,
Leões da TUF, Cearamor, Remoçada,
Terror Bicolor, Inferno Coral e Bamor
Nos estádios... nas estradas
sem cansaço... guerreiros a cantar


Jovem do Sport, Fanaúticos,
e outros mais...
Não tem chuva ... não tem sol
não tem distâncias... nem limites


Suas bandeiras tremulam
por seus times
Seus corações pulam
pelo crime de amar loucamente.


Henrique Rodrigues Soares

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Canção de Saudade
















Já beijei tantas bocas
nenhuma como a tua
Já amei tantos corpos
nenhum como a lua


Olhei para teus olhos
calculei os quilates
dos dentes de ouro
que deixam saudades


Já chorei tantas pernas,
tantos braços, tantos sorrisos
De alegria superna
perdi os meus cisos


Nada foi, nada será
como o teu brilho
perdido no passado
Como teu orgulho
engavetado
no armário


Olhei para tua boca
Vi teu coração pulsando
como um mendigo
esmola aguardando


Senti tua carne
tão quente, tão terna
Esperei com ansiedade
pela chegada da primavera


Nada foi, nada será
como teu andar absoluto
como teu corpo... Um vulto
que se perderá
num passado rasgado
num adeus tão ingênuo
que meu corpo calará


Já mudos e sem esperanças
Me inundarei de bonança
Esperando meu corpo... Deteriorizar.


Henrique Rodrigues Soares

Lucidez




















Tentei não enxergar as paredes
com seu cal pálido de desprezo
mas as beijei, e senti o amargo gosto


distante verei teu rosto
o fim do que não teve começo
falo palavras que não sinto
o que sinto não tem preço


meu coração está deserto
decerto, preciso da multidão
fantasmas (resíduos de imagens diárias)
mutilam dia a dia o corpo


pouse para meus olhos
quanto tempo não te vejo
sou confuso, sem trilhos,
obscuro, sem filhos
para dar e receber.


Henrique Rodrigues Soares

A morte da poesia















A poesia em mim morreu
Não há tempo para a poesia
A poesia naufragou no mar da civilização
A obstenidade da dor engoliu-a em grandes pedaços
A poesia foi sufocada pelas ruas apertadas
os bolsos estão vazios
e os corações apertados


Lá na estante empoeirados
Jaz à poesia
Foi boa amiga para quem a leu
Foi uma companheira solidária
para aqueles que a conheceram
E para seu poeta
foi a mais sincera de todas amantes.


Henrique Rodrigues Soares

Cidade Grande














O menino branco sobe o morro pra comprar preto
o preto desce o morro pra vender branco
os bandidos enquadram na parede
vigiam seus domínios
A policia foge em retirada das terras do latrocínio
As praças, as ruínas, os mendigos pedem esmolas
As igrejas falam de um Deus rico e pede-se em sacolas


Nossos jovens criam um novo alfabeto
nas paredes de prédio e monumentos
criam uma nova selva
da morte tiram seu divertimento
os tempos medievais voltaram
falta apenas à lealdade e a honra


Menina, nesta boca que masca chicletes
muitas coisas podes fazer
muitas coisas podes falar
tua glória e tua perdição
Menina nua, mostra teu corpo para quem?
mostre tua face escondida...
as faces do rubor de tua inocência


As ruas rugem teu destino
as ruas são teus deuses
O teu corpo fascina
os escravos
do desejo carnal.


Henrique Rodrigues Soares

A dominação
















Não sei chorar
A obscuridão do medo me tortura
As lágrimas me faltam
não tenho como fugir
toda hora vejo o replay do que passou


Olhares estremecidos... Olhos que estremecem
Tudo gravado nas minhas retinas
Este filme tem me assustado todos os dias
Mas nunca como hoje


Uma matéria morta pode matar
Uma viva pode morrer em instantes.


Henrique Rodrigues Soares

Clérigo




















Me tiraste o celibato do silêncio
cheiro do teu corpo... incenso
em que dorme todos os tempos
novos caminhos do meu coração


Teu sorriso ilumina meu espírito
que tantas noites solitário e aflito
conversou com paredes de ventos
escondendo minha emoção


Mal chegaste, foste embora
Minha alegria por poucas horas
Tinhas que ir para bem longe?
para me colocar enfermidades?


Estou aqui tão verme
melancólico... inerme...
não sei por onde
mandarei minha saudade.


Henrique Rodrigues Soares

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Coisa de Pele




















No toque de tuas mãos
No toque de teus lábios
Me transformo em confusão
Não sou tão otário ou sábio
Apenas me perco em teus carinhos


Sons em profusão
olhos sem caminho
sentir o gosto do desalinho
sentir a força da canção


Mordo tua pele
como a carne de uma maçã
Carrego no peito a sombra
do melhor de todas as manhãs
Teu cheiro é suave
como a música de Djavan


Me dominas como se fosse teu
e foge quando quer
sem ao menos um adeus
me deixando um ateu
sem crer em nada


Acostumei com os ventos
que corre nas tuas veias
Acostumei com o pouco tempo
que tenho direito
Acostumei com teu temperamento
que amarga meu peito


Não faz sentido o que sinto
Mas deixei de me preocupar com isto
Esta coisa de pele
é o que me permito
são nuvens de ocasião
são pés que não tocam o chão.


Henrique Rodrigues Soares

Oração e Credo















Morro sem temores nem esperanças
Não busco nada dividido
Um deus ruim ou um deus bom
Serei, eu um deus?
Por ser bom ou ruim?
Não sou hippie, não sou do oriente
Não sou judeu, nem crente


Sou incrédulo, mas não sou católico
Fazem-se homens deuses
Fazem-se deuses em homens
De deus veio o homem
E do homem veio deus


Não sei!? Não sei!?
Nem me preocupo em saber
Deus é este momento lúcido
em que contemplo a natureza
com seus sons e cores
Vejo as pessoas com sonhos
amor, liberdade e sabores
Este é o Deus que acredito
É para ele que faço minha oração.


Henrique Rodrigues Soares

Poema quase morto




















As necessidades de alguns
se resumem a um corpo
Os sonhos de alguns
se resumem a um copo
Meu refúgio são lágrimas
que meus olhos deitam
no tempo e no vento


Minha poesia confusa
não quer dizer nada
O meu verso é estrume
que fede e que apodrece
ao ficar exposto
Não misture com a terra
os seus sonhos
Na terra tudo é rápido
se nasce, cresce, brota
envelhece até fenecer


Instantes de vida
são perdidos
são assassinados
E a morte este ser suave
nos rodeia
nos apalpa
com sua pele.


Henrique Rodrigues Soares

Mestres da Literatura




















De Bandeira
esta febre passageira
que dura noites inteiras
De Sabino o complexo menino
envelhecendo e diminuindo
diante da vida e o tempo
Dos Drummond de Andrade
jeito interiorano na cidade
Do grande Pessoa
inquietação que ressoa
de várias vozes num só corpo
Álvares de Azevedo
e seu jeito azedo
Machado de Assis
a vida dura e infeliz


Tanta dor, tanto sangue foram poesia
Tanta verdade, tanta mentira foram romance
Meus preferidos diante de tantos queridos
minha homenagem.


Henrique Rodrigues Soares

Tarde Fria




















Um cavalo sem rumo
cheio de dúvidas sem prumo
busca uma direção
cavalga tão forte
sem medo da sorte
o meu coração


Uma espada o divide
Uma dor o consome
saudade maltrata mais do que fome
É um caminho tão longe
cansa minhas pernas
cansa meu pensamento


O frio duro muitas vezes cruel
para aquele que caminha sozinho
quem quer um pequeno carinho
também quer o céu


II
O sentir tão fraco como vento
O possuir rápido como o pensamento
A juventude floresce e murcha
sem o brilho de outrora
seus dias foram embora
inconsoláveis e fúteis


A virilidade é tão efêmera
A consciência tão déspota
Machucas o que está ferido
Chuta o cadáver que deixou o tempo
sem escolhas e sem esperanças


Tanto de tudo
E ao mesmo tempo nada
O nada como tudo
são enganos de palavras.


Henrique Rodrigues Soares

Os Navegantes




















Quando meu corpo
encontrar teu corpo
numa noite dispersa
em que embebedo do teu perfume
Meu barco arrebentará
na volúpia do mar
que é teu corpo
Então afogarei nos teus olhos
e deixarei unir-me ao mar


Vejo gestos voluntários
de uma guerra ocupacional
Sentimentos ferozes
como tempestade
Avassala e destrói
Corpos ocupam o mesmo lugar
um ponto no universo


No quarto
um mar nunca dantes navegado
é descoberto
E os navegantes sobrevivem ao temporal


Os céus param de chorar
A tempestade bebe tranquilizantes
o vento dorme, acalma-se o mar
Dois corpos navegam
na calmaria de um quadrado.


Henrique Rodrigues Soares

Trem




















Lá, no fundo no horizonte
vejo aquele trenzinho cansado
na sua rotina de levar
milhares de pernas cansadas,
olhinhos assustados e adormecidos
Corações esperançosos
mas no fundo desesperados
Pois a viagem é curta
e seus horizontes não foram alcançados


E daqui de longe
vejo com outros olhos
olhos de político doutorado
Vejo como um brinquedo.


Henrique Rodrigues Soares

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Fortaleza de Humaitá




















Nunca mais pousarei minha mão em teu seio
Nunca mais sentirei o ardor de tua carne
Minha vida se alenta no passado
Meu corpo moribundo sente necessidade de cura
Ah! este néctar dos teus lábios
como me saciavam nas noites de pedras
Não me culpe por te querer
Venha banhar meu corpo com tua mão
Venha me embebedar com tua saliva


Amor!
dor mais cruel do que a morte
Me ignoras, me destrói
numa melodia
numa hemorragia
alucinante
Oh, dor!
que finca minha carne
que brota no meu sangue
e escorre n'alma


Minhas noites tornaram-se deserto e desespero
A solidão me arrasta pelo chão das estrelas
E tu brilhas com tua face linda sobre meus olhos
Nem te odiar consigo
Não posso te condenar por não me querer


A distância do teu corpo
me estrangula, me sufoca
tira toda força do meu peito
Meu riso é um escape
para chuva que nasce de mim
Vivo vagando como uma estrela bêbada
cadente?
ou decadente
sem órbita
sem destino
Meu brilho é falso
meu fogo é ódio
em raiva me decomponho.


Henrique Rodrigues Soares