domingo, 6 de dezembro de 2009

Cavaleiro Maldito




















Ao cérebro, este cativo da loucura
num mar de tormentas navega
preso as ilusões que se apega
esperando o convívio da terra pura


Oh! morte, mar de obscuridão
me agasalha como teu filho nobre
nesta voraz noite de cobre
em que me resta a tribulação


Atribulado, e sem esperanças
como um cavaleiro andante das trevas
em que me prendo ao feitiço das ervas
e, ao pecado que é pecado por usança


Acorrentado pela dor que me abate
a solidão é febre que fere e que mata
sou exemplo do lixo, da sucata
pra quem já foi carro de combate


O calor do verão. O frio do inverno
tão intensos, tão iguais, tão inversos
não me acostumei a este mundo perverso
que pra mim é uma etapa do inferno


Da vida, não espero flores
espero apenas esta maldição que sustenta
a humanidade que em marcha lenta
vai de encontro a morte e as suas dores


Triste, vil, é meu fado de álcoolotra
que bebo pra me libertar do sistema
mas acabo, me escravizando no emblema
de louco, híbrido e idiota


E este meu espírito de anhangá
num arpejo de morte
no ágape dos fortes
sem receios se entregará


Mas tu não verás meu sangue
ser derramado neste planeta mundano
homenageando algum deus profano
sou nulo e meu corpo exangue


Também, não verá lágrima
de minhas pálpebras derramar
por esta vida que vou deixar
pois ela é tédio e traumas


Não quero vestido suntuoso
quero apenas amargura casta
das trevas que me arrasta
para o fim tenebroso


Na cova me atirei, virei passado
o ativo dos meus dentes cessaram
as águas do meu corpo secaram
a terra me pranteou calado.


Henrique Rodrigues Soares

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