quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Passagem de Ano




















O ano passou e com ele
as dores, as flores,
as alegrias, as trevas,
as loucuras das ervas,
o pó que aniquila
e o pó aniquilado
nos moveis, nos retratos antigos
que assistiram, que resistiram
tantos anos passados


O ano passou e teus olhos desejaram...
imploraram... choraram por milagres e sonhos
E você solitário sofreu com tua própria decomposição
No teu corpo feneceram flores de desejo;
flores angustiadas, medrosas e rancorosas


O ano novo nasce e você conforta no futuro
O ano novo nasce cheio de rugas e pelos brancos
Mas, há um novo amor no teu coração
Há um novo sangue em tuas veias
e novas estradas levam até novos horizontes
E nas florestas densas, as matas virgens suspiram por teus pés


Os tempos mudaram
A chuva molhou a terra
No céu relâmpagos anunciam novas guerras
Despi-me das feras e das derrotas do passado
Os rancores e temores se escondem no fundo do baú
Os teus olhos brilham como a estrela que pediste o desejo.


Acenda uma vela para teu corpo
Há apenas uma trilha para uma vida inteira
Fume teu cigarro... os sonhos se queimam...
de concretos viram fumaça,
como tua vida que passa
Espere, pelo ano que vem.


Henrique Rodrigues Soares

Juventude
















Mar de fúria e de inquietude
as mãos engorduradas de desejos
roupas armadas de atitude
vaidosos em seus ensejos.


São água derramando no recipiente
falam como donos da verdade
são livres em suas mentes
mas se perturbam frente a liberdade.


Henrique Rodrigues Soares - Fases da Vida

Adolescência




















Calmo, fui no que pude
preso nos sonhos adolescentes
cheio de fúria e atitudes
louco, tempestuoso e displicente.



Farto de desejos... amores crônicos
jeito puro, atirado e indômito
às vezes falo muito... vezes lacônico
bicho do mato, surpreso... atônito.



Minto por não saber a verdade.
Espinhos... meu rosto deformam
hormônios... meu corpo transformam
de sincero, minha autenticidade.



Voraz e de alma gentil
sentimentos ferozes
todos consigo... algozes
de um desejo mercantil.



Henrique Rodrigues Soares - Fases da Vida

Infância














Já pequenas plantas... elas cresciam
procurando seu lugar no mundo
falta de certeza do que faziam
brincando estes seres fecundos.



Do mal ou do bem, mas sem querência
pedras esperando serem lapidadas
algumas brutas e deformadas
em sua infinita inocência.


Henrique Rodrigues Soares - Fases da Vida

O Embrião




















Nascemos embriões vigorosos
sete a nove meses guardados
para que nossa carne, nossos ossos
possam viver enfim... separados


Do seio materno que nos preparou
e a quebrar o cordão que nos prendia
num despertar quase que lento chorou
a semente mostrou sua magia.


Henrique Rodrigues Soares - Fases da Vida

Apolo













Narcisos enfurecidos
pintaram seus retratos.
O espelho de uma perfeição
que não existe.
Perfeitamente imundos
são suas almas
e seus preconceitos
e seus racionalismos
baratos.


Egoístas imaturos
não conseguem controlar
sua inferioridade
diante do seu frágil
disfarce
escondidos no espelho.


Henrique Rodrigues Soares

Poema Sujo










Não escreverei palavras belas ou afáveis.
Não cantarei a alegria, o romantismo,
nem as mulheres.
Cantarei, sim!
O som triste da solidão
os negócios escusos
os sentimentos confusos
a feiura e o ódio que exorcizam meus olhos


Não ficarei calado
é necessário continuar,
então escreverei... escreverei... palavras terríveis e absurdas
escreverei dores, derrotas e egoísmo.


Sinta nas suas narinas
as impurezas do meu coração.
Sinta nas suas narinas
o mau cheiro destas palavras.


Não há beleza na realidade.
Não há amor na realidade.
O não existir é perfeito
as flores são perfeitas
e o homem uma mentira mau contada.


Nossos olhos enganados sobrevivem
do vaivém dos disfarces
que circulam entre nós
com toda sorte de maquiagem.


Henrique Rodrigues Soares

sábado, 12 de dezembro de 2009

O Operário e o Marinheiro
















E o operário, carvão que alimenta as usinas
Força, combustão usada nas oficinas
Ser bruto que habita em obscuras minas
Escravos das horas como uma máquina humana
Preso a um salário de semana
que ao seu trabalho profana
por seu valor mísero e curto
E o patrão de meios escusos
já que possui muitos recursos
com a esperteza de quem sabe furtar
consegue dividir ou enganar?
Um salário p'ra três, e conseguindo escravizar
ao operário que sem dinheiro
como um bom marinheiro continua a navegar
Pois melhor um navio pobre do que ficar longe do mar
E assim sendo, o solitário marinheiro
navega, navega, navega...
com seu estômago vazio
com sua alma vazia
mas com seus olhos cheios de águas
Águas do mar
Nada, nada, nada...
pois acabou o combustível
E quando reclama
nada, nada, nada...
pois acabou o mar
O mar secou.


Henrique Rodrigues Soares

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Saudades
















O mar se achega a terra
como quisesse consolo
como quisesse enxugar suas lágrimas
como um companheiro cheio de saudade
como quisesse consumir
com fúria
agredindo, penetrando,
irmanando pela terra.


Tua espuma num encontrar de lábios
florescidos
umedecidas glândulas salivares
O teu sal de desgosto
O teu frio de solidão
O teu amargo de saudade
Ah! Espuma branca, pacífica,
sinal de evasão
O teu sentimento indevasso.


Henrique Rodrigues Soares

Estado Terminal
















Lembrança de vida imaculada
sem vícios, precisa
guardada na espera
do amor que não veio


Este meu coração submisso
esperou por teus olhos
por décadas de solidão


O mundo me deixou cair
em soluços e deserto
E me levantei como sol no inverno
apenas por obrigação


Aonde você está?
que não te vejo
Sinto agora o tempo perdido
com palavras suaves


Sinto a vaidade sagrada
que cultivei
Os casulos ranzizas
que morei


Me deixei
no cálice do esquecimento
que caiu
e se quebrou.


Henrique Rodrigues Soares

domingo, 6 de dezembro de 2009

Religiões















Deus? Deuses?
Um? Milhares?
Todos num só, ou todos com todos?


Culpados ou inocentes?
Criadores ou criações?
Escravizadores ou escravizados?
Destruidores, vingativos ou libertadores?


Símbolo da fé humana
tão humana, por isso, tão frágil
Deuses humanos
a nossa imagem e semelhança,
ou vice-versa
Nacionalistas e tiranos
com o tempo
alguns viraram poeira
alguns fortaleceram-se
outros apareceram.


E os homens escolheram
um, três, três em um
para ser adorado pela maioria
Mas o homem, já que a fé é humana
confundiu e confundiu-se
criando a religião
que é humana (por isso cheia de erros)
versificada
versificou
milhares de teoria sobre um mesmo Deus
Que assim acabou tornando muitos
que são ao mesmo tempo
um só.


E o homem
na sua eterna cegueira
continua procurando
um culpado para tudo isso.


Henrique Rodrigues Soares

Sensações 2
















Sou como a nuvem
passageira e suave no azul do céu
Não espero nada de ninguém
Não quero que esperem de mim
Quero sossego para olhar a vida
com meus olhos.
Com meus próprios olhos.


Quero enxergar o fio da vida
que arrebenta com o findar das horas
Pois a vida não é mais do que isso
Um fio infinito que não se vê
apenas posso senti-lo sua negra decomposição em mim
A hora é sua maior inimiga
Você nunca convencerá
Pois ela é sua dona


Não siga o caminho negro
nem o caminho branco
Pois não há caminhos para quem vive
apenas a morte


E nesta noite calada
teu carinho me sustenta, vivo,
ou quase vivo
Não tenho mais certezas
A escuridão é dúvida
e só vejo escuridão
Tua alma é escura
como a alma de qualquer mulher.


Henrique Rodrigues Soares

Elegia para Cláudia




















Ah! Como eu te amo
Um amor puro sem censura,
sem carne, sem mistura,
sem posses, necessidades ou obrigações.
Te amo te querendo
sem querer para mim


Ah! Minha amiga
Nas noites em que o abismo se achega
Nas noites que minhas lágrimas
brotam nos meus olhos
A tua presença é uma luz acesa
que brilha que esquenta meus poros.


Quando este astro louco deixar
esta galáxia.
Ele levará consigo
uma lágrima, um sorriso, um carinho teu
numa longa caminhada
num doce adeus.


Henrique Rodrigues Soares
A minha Querida amiga Cláudia.

Fora de órbita




















A noite se vestiu de estrelas e sagacidade
Afoito, petulante, sou um anjo puro
Meus olhos são incisivos e obtusos
Tão vazio este sorriso de sinceridade


Impregnado pela intensidade da volúpia
Te vislumbrei na casta penumbra
cintilante teu rosto me inunda
nesta inefável noite de núpcias


Porfiei, por estes segundos íntimos
A noite, uma escuridão obesa
se aflige e uiva indefesa
por seus próprios desejos ínfimos


O meu riso é caustico
ludibria minha face
Este teu quase?
É frase de matemático


Meus olhos tremendo
correm teu corpo envolvente
Ouço o latejar
do mar de saliva entre teus dentes


Sinto teu sangue agitado
andar por teu corpo
Sinto teu sexo suado
chamar por meu corpo.


Henrique Rodrigues Soares

Cavaleiro Maldito




















Ao cérebro, este cativo da loucura
num mar de tormentas navega
preso as ilusões que se apega
esperando o convívio da terra pura


Oh! morte, mar de obscuridão
me agasalha como teu filho nobre
nesta voraz noite de cobre
em que me resta a tribulação


Atribulado, e sem esperanças
como um cavaleiro andante das trevas
em que me prendo ao feitiço das ervas
e, ao pecado que é pecado por usança


Acorrentado pela dor que me abate
a solidão é febre que fere e que mata
sou exemplo do lixo, da sucata
pra quem já foi carro de combate


O calor do verão. O frio do inverno
tão intensos, tão iguais, tão inversos
não me acostumei a este mundo perverso
que pra mim é uma etapa do inferno


Da vida, não espero flores
espero apenas esta maldição que sustenta
a humanidade que em marcha lenta
vai de encontro a morte e as suas dores


Triste, vil, é meu fado de álcoolotra
que bebo pra me libertar do sistema
mas acabo, me escravizando no emblema
de louco, híbrido e idiota


E este meu espírito de anhangá
num arpejo de morte
no ágape dos fortes
sem receios se entregará


Mas tu não verás meu sangue
ser derramado neste planeta mundano
homenageando algum deus profano
sou nulo e meu corpo exangue


Também, não verá lágrima
de minhas pálpebras derramar
por esta vida que vou deixar
pois ela é tédio e traumas


Não quero vestido suntuoso
quero apenas amargura casta
das trevas que me arrasta
para o fim tenebroso


Na cova me atirei, virei passado
o ativo dos meus dentes cessaram
as águas do meu corpo secaram
a terra me pranteou calado.


Henrique Rodrigues Soares

Labirinto sem Opções


















Vejo a noite cobrindo
todo o meu corpo
O sussurro da noite
persegue os meus ouvidos
Me perdi num grande vazio


As flores estão sem graça
O cansaço vai tornando em desespero
O absinto tornou doce
O céu e mar estão vermelhos
Os teus olhos estão secos
como um vídeo que passa o mundo
sem seus sentimentos


Então peço perdão por não te conhecer
Então peço perdão por te odiar
Então peço perdão por não acreditar em você
Então me entrego...
como as folhas se entregam ao chão
Como o cair da noite
espera o alvorecer.


Henrique Rodrigues Soares
Ao Dinei que nos deixou tão cedo.

Amor Recondicionado














O teu brilho que até ontem se perdera
de fulgor e glória está de volta
O teu riso que não houvera
Hoje anda, e perfuma à solta


O teu corpo sacia meus olhos
da sede que resseca
minha boca seca
Fiquei muito tempo
te esperando
me consumindo
quase sumindo
vendo o tempo findo
pois a vida acabara
e eu te esperando


Mas como um cão fiel
O corpo espera seu dono
Passa verões e outonos
Já estou sentindo sono
Mas só irei se for pro céu


Então como despertar do inesperado
Vejo meu coração alimentado pela matéria
E o coração recondicionado
bombeia sangue renovado
por veias e artérias.


Henrique Rodrigues Soares

Vida Difícil


















Se puta ganha
seu ganho
com pernas que andam
com pernas que arreganham
e abraçam o mundo.


Se o desejo é imundo
aos olhos do mundo
Então respire profundo
e se perca sem perdoar.


Se teu corpo não se acanha
Se a moral não tem vergonha
Se tuas máscaras não desabam
Se teu rosto não perde o disfarce
De quem tens medo?
Se no mundo não existe segredos.


Henrique Rodrigues Soares

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Um Caso de Amor


Hoje vou deixar de poetizar, para falar de uma torcida que é sinônimo de poesia. No dia 03 de dezembro de 09, por volta das 18h00min horas uma paixão incontrolável tomou as ruas da Cidade do Rio de Janeiro.
Um sentimento que ensinou a muitos o verdadeiro valor de torcer, não torcer só por títulos, mas sim por uma paixão que não pode ser controlada, torcer por uma fidelidade prometida sem esperar retorno, torcer por uma intimidade entre um time de guerreiros e seu povo que dependem de sua sorte.
Muitas vezes as vitórias escondem nossas fragilidades, mas diante das derrotas que nos vemos face a face.
O Fluminense e sua torcida puderam olhar um dentro dos olhos do outro e ver toda uma sinceridade que contagiou até os seus mais arqui-rivais. O Fluminense e sua torcida misturados para sempre.
Festas por festas de tantas tão belas, para um clube com tantas conquistas esta foi apenas mais uma, porém diante de um ano que este grande clube se viu tão perto do abismo, sua legião de torcedores cantando num alarido de guerra sem olhar para obstáculos, confiando numa esperança remota, se agarrando a uma fé de sangue encarnado, sem vergonha de se mostrar para todos que este amor por mais que seja desmedido nunca acabará.
Como diz a bela música “Meu coração acelera, quando vejo o Maracá cantar, Fluminense escuta teu povo que veio te apoiar”
Hoje posso dizer muito mais do que ontem, me orgulho de vestir esta camisa, me orgulho desta torcida, que pode não ser a maior, mas o seu amor está bem acima do que pode ser medido.

Saudações Tricolores!
Henrique Rodrigues Soares