sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Prisioneiro Imunológico

























Posso sentir a morte em meus olhos
Meus olhos profundos
Que tudo vê e acha imundo
Mas, a morte não está em meus olhos
Está em todo meu corpo
em minha respiração vaga e indecisa
na minha alma escrava
do medo e da dor


Posso ver nuvens negras em minha cabeça
Negras como a noite
Noite louca, noite horrenda
Prisioneiro da loucura
tenho a morte no meu sangue
E a cada batimento cardíaco
centimetros meus vão morrendo
Minhas defesas não existem
Minha vontade não existe
Minha razão não existe
Meu amor, meu ódio e minha arrogância
não existe mais


Não existe vida
Não existe nada
Apenas um vácuo
Apenas um corpo.


Henrique Rodrigues Soares

Cotidiano

















Acendo meu fumo
para recompor meus pensamentos
Vivo do que sobrou
Um amor de culpados


Há tanto frio nas calçadas
Há tantas famílias bombardeadas
pelo sexo da rua, pelo divórcio,
pela etnia, pela fé.
Não pensarei nisso,
Estou ocupado!


Ocupado com o próximo capítulo da novela
Nela não há palestinos, nem judeus,
nem o IRA, nem protestantes.
Pra quê quero saber disso?
Nas novelas não há fome
Só há ricos que consomem
Nas novelas não há mendigos
Só nobres e príncipes.


Quero pensar na novela
Quero sonhar como novela
Quero viver como novela
Quero amar como novela
e morrer como novela.


Henrique Rodrigues Soares

Ilusões















Quero ilusões
As fantasias sujas do mundo
Quero ilusão em pó
conformando meus sentimentos
Quero ilusão líquida
tão rápida, tão intensa no meu sangue
correndo por todo o corpo.


Quero a ilusão em qualquer estado
que a matéria possa me dar
A validade me deixa cansado
e estou cansado de vê-la.


Me dê gotas de felicidade
Me dê um sorriso sujo
Me dê esperanças compradas em alguma farmácia.


Henrique Rodrigues Soares

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Canibais Urbanos
















Qual é o teu vício?
Qual é a tua necessidade?
O teu sonho fictício
sinal de insanidade


A noite te cobre
com seu silêncio negro
Calando tuas ilusões
e teu desespero
A noite sacia tua sede
e seca teus olhos esperançosos
O vento te ronda
o vento te assusta
com sua voz soprana
numa noite sem palavras


Dominado pela fumaça
da tua liberdade
Você traga em doses violentas
Ela flui por todo teu corpo
e te leva a uma porta fora da realidade
na obscuridão
do êxtase
que é desafiar o medo
O medo do quê?
Este medo que assombra teus olhos
e faz suar todo teu corpo
Ele é tua humanidade.


Henrique Rodrigues Soares

Mistérios




















Nasci, um molequinho
Conquistando e sendo conquistado
pelo natural, sobrenatural, artificial, superficial
Um céu de incertezas e dúvidas
Montanhas de mistérios
A vida é realidade
A vida é mágica
é mentira, é vaidade


Nasci, molequinho
mas não sei se chegarei a ser velhinho
Cheio de sabedoria, burrice, loucura,
será que chego lá?
Vivo o máximo que posso
Pois a vida é longa, e é curta.


Henrique Rodrigues Soares

Meditações















Tua voz ecoa em meus neurônios
sinto o esvaziar do tempo
Montanhas nos cercam
tentando nos destruir
Te levo na minha proteção para as virgens nuvens brancas
A terra e o mar
se enfurecem
e disputam cada centímetro do planeta
E nós daqui olhamos
os dois meninos mimados
que se eternizam numa guerra ocupacional.


II
A madrugada é morta e solitária
e o teu seio estremece com o frio
que congela as esperanças
Meus anseios me perturbam
perturbam no desejado
Me prendo em metas
e me derramo em desculpas
Me constipei a chorar das dores tranquilas
Sou um bom masoquista.


Doces mentiras podem vir de um copo de vinho
mas a verdade engasga, e ás vezes mata
A mente deterioriza o próprio corpo
como um senhor maldito
que escraviza e judia seu mais fiel servo
A mente trama loucuras e o corpo padece.


III
Teus ideais brilham
com a aurora da vida
Mas com o chegar da noite
a morte crucifica teus sonhos
e rasga tuas roupas
e te deixa nu,
sozinho


O vento te agride
O tempo te envelhece
matando o que você conquistou.


Henrique Rodrigues Soares

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Enigma de Amor




















Não importa o belo ou se é feio
A calma sem recheio
A resposta que não veio


As intromissões que permeio
Posso rimar com cheio
ou tocar nos teus seios


Os teus lábios que sem receios
salivam meus anseios


Não quero que me aprece
Teu corpo nu me aquece
na eternidade de uma prece


A penumbra me arrefece
O silêncio embrutece
numa solitária quermesse


Teu amor me emudece
Teu favor me enfraquece


O que era impossível agora é dia
Do teu intimo a magia
Peguei teu cheiro que fugia


dos meus braços que entenderia
o desespero de quem perdia
aquilo que não encontraria


no teu doar eu te prenderia
em te amar eu levaria


por todos mares e cantos
por todas camas e campos
por tudo e portanto
Te semeei em mim e pronto
Me colha no ponto
pra nada de mim perder.


Henrique Rodrigues Soares

O trabalhador e a cidade pequena
















Cidade pequena
onde o trabalhador dorme,
quando consegue dormir?
Ligado a cidade grande
pelo trem
que como corrente do rio
carrega tudo que está na sua frente


E o trabalhador
água que segue seu curso
ao oceano
para buscar uma força
seu sustento


Como o rio que não pára
lá vai o trabalhador
em sua jornada
E a cidade pequena
como uma margem
fica a margem
a margem do rio
a margem da vida
a margem do trabalhador.


Henrique Rodrigues Soares

Máquina de Amor
















Olhares perdidos
corpos usados
sexo na cama
sentimentos nas paredes



Dúvidas? Medo? Angústia?
Não há explicação
Corpos? ou copos vazios?
Apenas o ar quente e o verbo possuir


Horizontes tão baixos
Um vazio profundo domina o ar
congelando os corações
Então, apenas vejo o movimento
o usar das máquinas.


Henrique Rodrigues Soares

Conto de Fadas















Um dia conheceu-se a América
Nasceu Brasil tão lindo, tão verde, verde...
que até hoje não amadureceu
Portugal sua pátria madrasta
como uma madrasta sempre o amou
Veio então a tal liberdade
e depois a maçã ianque
e depois... e depois... e depois
O Brasil dorme até hoje
esperando o príncipe encantado.


Henrique Rodrigues Soares

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Amor Demitido



Vãs palavras falei ao teu ouvido
Sussurrando desejos proibidos
Teu arcano tornou-se tua arma
E minha fraqueza meu carma


Os teus sonhos terapia de vida
Perdidos num antártico verão
Tuas mentiras tornaram-se bebidas
para alimentar esta física ilusão


Amor que agoniza
Amor que tira sangue
e que deterioriza
Amor que te deixa perdido
estúpido... incompreendido
pelo mundo que rodeia


Demitido... aviso prévio
Justa causa pode ser
Mas meu coração não aceita
Peço que volte e fique
e tire este ardoroso tédio
que não consigo mais vencer.


Henrique Rodrigues Soares

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Meditações Urbanas














no vaivém oprimido
no morrer do remanso
vidros de comprimidos
compensando o descanso


como é pequeno apartamento
os sonhos inúteis
um corpo de enchimento
para horas fúteis


caras amarrotadas
olhos armados
roupas engomadas
trânsito cansado


beleza se compra
felicidade se encena
o amor está em cartaz
em qualquer cinema


II
os calos se apertam
as paredes não protegem
os medos cercam
os tiros sucedem


comida de conserva
literatura fantástica
televisão para conversa
plantas antipáticas


um amante impotente
uma comida fria
uma conta corrente
de fonte vazia


liberdade contida
linguagem obscura
nicotina e bebida
citadina ternura.


Henrique Rodrigues Soares

domingo, 1 de novembro de 2009

Elegia ao Fluminense
















Meu coração tricolor
que tanto de alegria e cor
hoje rima com dor


Tentei te esquecer...
Mas como um crime
que nossa consciência recorda
não consigo esconder
Sofro por nossas derrotas
Pois teu nome cravei
tuas cores amei
em meu consciente
Até morrer sou Fluminense!


Quando lembro de teu passado
e vejo teu presente
De campeão idolatrado
a torcida ausente
Me dói, como dói...


Ao lembrar do meu Maracanã
lotado, verde, vermelho e branco, lotado
Minha nobre humilde Laranjeiras
na Pinheiro Machado
Rostos de orgulho suas bandeiras
tremulando aos gritos de "Campeão!"
Vemos hoje o estádio vazio
os olhos tristes dos poucos torcedores
que pela paixão ainda vem te ver


Cadê o teu orgulho guerreiro?!
Cadê tua disciplina vitoriosa?!
Oh, Fluminense!
Cadê teu pavilhão de glórias?!
Que fez tantos fãs pelo Brasil


Mas, meu coração ainda sonha
e no teu verde esperança...
ponho a certeza de um novo amanhecer
Meus olhos, te acompanham
Pavilhão de tradição
não pode ser julgado em divisões
Os teus méritos são tuas cores
teus títulos e teus torcedores


Fênix de sangue encarnado
de raça, de paz e de força
Renascerá sobre nossos arqui-rivais
vascainos, botafoguenses e urubus


Ave guerreira de três cores
Voltará brilhando no céu
que é o lugar onde nasce estrelas
e permanecem por toda eternidade


Fluminense!
Astro Rei
do futebol carioca.


Henrique Rodrigues Soares

Um quadrado




















O pavor, o medo
A angústia percorre pelos corredores
Artérias e veias
se contorcem, se dilatam,
perderam o controle da sua proporção
O passado se revolta
destruindo o futuro
O futuro dos teus planos


Não me permito sonhar
apenas tenho pesadelos
Minha tempestade me cobra
porque deixei de enfrentá-la
Fui corajoso em me tornar covarde
Escravo dos horizontes que me alinhei
Escravo dos medos que temi
Escravo dos tabus que criei


Sou poligonal
Contenho minha covardia
me escondendo na pedra de Drummond.


Henrique Rodrigues Soares