sábado, 26 de setembro de 2009
Clandestino
A noite consome
os homens
com sua fome infinita
A noite liquida
os homens
com sua líquida morbidez
A noite nos cega
tortura e enlouquece
A noite nos embebeda
com sua volúpia
e nos cobre
com seu manto
Nos excita
com seu mistério
revestido de cortinas
Nos domina
com sua limitação
nos amarra
a um caís... uma prisão
Sua beleza é superficial
O seu encanto é carnal
Tão carnal quanto a dor
Um mar de ilusões
me afogou
Um mar de decepções
me cobriu
e nas suas sombras
escondi o meu rosto
A noite chegou, devargazinho,
espalhando-se por todos os cantos
numa procissão de mortos e feridos
A noite absorveu toda luz
que havia naquele lugar
A noite como um monstro horrendo e hediondo
A noite numa brisa nos adormece e petrifica
Clandestino
num barco que não é meu
num mar que não é meu
num tempo que não é meu
Naveguei numa transpiração suave
Estou calmo, minha respiração tranquila
Meus olhos virgens de choro
agora transbordam sem parar
Bebo minhas lágrimas
Nado em minhas lágrimas
Este soro vem me curar
do mal que floresce no meu coração
Cavalgo numa estrela, pura, solitária
Minha boca está faminta, está sedenta
Meus ouvidos imploram por este alimento
Quero silêncio!
Quero sussurros da noite
Quero ouvir
Preciso ouvir!
De alguém, algum ser
neste planeta egoísta e solitário
-Eu te amo!
Preciso, muito ouvir estas palavras
nem que quase imperceptíveis
Peço pela última vez
-Eu te amo!
Clandestino louco dos mares
Abordei uma terra que não é minha
Não pedi para entrar
Entrei!... Entrei por sua densa floresta
com meu poder de fogo
Existe um vulcão dentro de mim
pedindo socorro e carinho
sua fúria, sua força está morrendo
apagado pelo medo dos teus olhos
pela rejeição dos teus braços
Esta noite tem me despido
As dúvida me consumido
Milhões de pessoas me rodeiam
com seus desejos
E suas mãos me apalpam
com seus espinhos
Olho os fantasmas
Olho os cavaleiros da noite
que reinam no absurdo das estrelas
em seu eterno caminhar.
Henrique Rodrigues Soares
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