sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Alma Corsária
















fotografias antigas não tenho
lúcida treva na memória
subterrâneo sem estória
o passado queimou como lenho


amores foram sem escolhas
gavetas... maçanetas rachadas
dor triste desafinada
árvore, só de galhos e sem folhas


não consigo olhar as luzes amargas
no meu ouvido canções terríveis e mortas
no mar longe das dorcas
edifícios, ilhas e cruzes


o eterno esconde a verdade
as suas pernas escondem o mito
as estrelas o infinito
de quem procura a realidade


meus versos sem nexo
são rascunhos de um dia
notas de uma melodia
perdida sem sucesso


II
amo tua tristeza e tuas estrias
não sou bom falando palavras
mas as escrevos com simpatia


neste mundo que raro é a esperança
nos olhos dos vivos
tão duvidosos e tão decididos
são caro também os dias e os dedos
vende-se corpos, almas e crianças
tudo é tão claro, quando não um segredo


o amor é sempre repetitivo
muda-se apenas os nomes
os mesmos beijos... a mesma fome


eterna mutação dos princípios e dos fins
leitura do não e do sim
pelo rio da dúvida infinita
tão revolta e desdita
navegas a vida sem consolação.


Henrique Rodrigues Soares

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