quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Sentença



















Já fomos felizes
Quando beijos
Rimavam com desejos.
Se anos de rotina
Fez do amor oficina
De atores e atrizes.


Os olhares ardidos
Agora são frios
O desnudar escondido
Agora sem brio.


Um exercício tardio
Sem sorrisos, sem energia
Diálogo e carinho vazio
Limitado e sem ousadia.

Se alguém sofre
Não se sabe
Toda rudeza encobre
E nada de belo cabe


No rol de gestos imitados
No prazer copiado
Ou procura de culpados
Para um fim acertado.


Henrique Rodrigues Soares – O que é a Verdade?

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Monomania















palavras sucessivas oprime
sugestões estúpidas confusas
dominado pelo tenebroso crime
de quê me acusas?


me acusas sem precisão
da grandeza de meus planos
qual é a questão?
porque tão desumano?


danos me foram legados
inclusos em minha parte
não sei qual foi meu pecado?
deve ter sido. - amar-te


continuo com esta doença
de carne, alma e pensamento
ato de fé por uma crença
idéias em confinamento


furtaste os meus segredos
me arrebentara num precipício
não há castelos nem espelhos
só muros e edifícios


II
já não falamos a mesma língua
abriste todos os meus segredos
conheceste as minhas manias
hoje revelas os meus medos


medo das alturas
medo dos copos quebrados
medo das mãos puras
e dos meus olhos afogados


afogados no mar que criei
me cortei nos corais
são marcas que conquistei
para esquecer nunca mais.


Henrique Rodrigues Soares - A Natureza das Coisas

domingo, 19 de dezembro de 2010

O Sobrevivente




















o ar quente que sai do teu decote
a vida espontaneamente espera a morte
os lábios que falam como chicote
os corpos açucarados num fricote


na vida sobrevivem os fortes
não para essa de azar ou sorte
limpei as feridas, curei os cortes
todo time tem seu mascote


II
o cumprimento da tua minissaia
o infortúnio da vaia
a marcação da raia
a mordida da lacraia


a arte dos índios Maias
a febre da malária
nem todos são da mesma laia
nem todos vestem uma mesma malha


III
veja essa onda de livre umbigo
produto de desejo antigo
para palavras não ligo
não resolvem... não são meu abrigo


quantas dores sem amigos
quanta fome sem trigo
esta saudade que levo comigo
de tudo que deixei contigo


IV
a impotência é o maior aleijo
qual o valor de um beijo?
qual o sabor de um queijo?
o que sonho? o que almejo?


tudo é quanto tão vejo?
são quentes os desejos
desordens que antevejo
nascem de um simples gracejo


V
procuro de tudo um sinal
tão simples e irracional
tão chulo e tão banal
para sintonia ou canal


me ensine o bem e o mal
me ensine o sensacional
traduza para meus olhos o fatal
antes que me cale com o final


Henrique Rodrigues Soares - A Natureza das Coisas

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Alma Corsária
















fotografias antigas não tenho
lúcida treva na memória
subterrâneo sem estória
o passado queimou como lenho


amores foram sem escolhas
gavetas... maçanetas rachadas
dor triste desafinada
árvore, só de galhos e sem folhas


não consigo olhar as luzes amargas
no meu ouvido canções terríveis e mortas
no mar longe das dorcas
edifícios, ilhas e cruzes


o eterno esconde a verdade
as suas pernas escondem o mito
as estrelas o infinito
de quem procura a realidade


meus versos sem nexo
são rascunhos de um dia
notas de uma melodia
perdida sem sucesso


II
amo tua tristeza e tuas estrias
não sou bom falando palavras
mas as escrevos com simpatia


neste mundo que raro é a esperança
nos olhos dos vivos
tão duvidosos e tão decididos
são caro também os dias e os dedos
vende-se corpos, almas e crianças
tudo é tão claro, quando não um segredo


o amor é sempre repetitivo
muda-se apenas os nomes
os mesmos beijos... a mesma fome


eterna mutação dos princípios e dos fins
leitura do não e do sim
pelo rio da dúvida infinita
tão revolta e desdita
navegas a vida sem consolação.


Henrique Rodrigues Soares

domingo, 12 de dezembro de 2010

O Encontro














Naquela noite serena em que te encontrei
Brotara no teu rosto sorriso sem igual
que como uma áurea angelical
me conquistara. Então te amei


como se ama sem prudência
Num desejo de querer
Num desejo de ter
sem vícios ou dolências


Como um corcel atropelei o vento
numa corrida louca
Meu coração disparou à solta
a procura do seu sustento


Um selvagem sem espírito
cavalgava pela natureza
sem títulos de nobreza
tendo pela frente apenas o infinito


A violentos galopes fui a tua procura
Quando te encontrei. Cansado
esperei por teu olhar iluminado
Um olhar profundo de ternura.


Henrique Rodrigues Soares

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ritmo das Coisas














me experimentas com sal ou doce
me cumprimentas com mãos ou olhos
me facilitas com sorrisos
me acostumas com as horas


me costuras com os amores
me fascina com as cores
me engana com as flores
me escraviza com os sabores


mas, não me farto
mas, não me encontro...


os edifícios me sufocam
este barulho todo me ensurdece
estes andares femininos me provocam
a miséria me emudece


os grandes anúncios te convocam
para liquidação ou para prece
os carros se atropelam numa quermesse
os pedestres fazem sexo quando se tocam


mas, não me farto
mas, não me encontro...


Henrique Rodrigues Soares