domingo, 23 de janeiro de 2011

Morte

















Alguns dias acordamos cansados
Fadigados e extenuados de viver
Vemos tudo como um trágico fado
E então, compreendemos porque morrer.


Trabalhamos, trabalhamos...
Sem algo para receber
Nos enganamos e saciamos
Construindo sonhos de poder.


O dia começa exaustivo
Sem novidades para acontecer
Sem desejos ou motivos
Vamos nos acostumando a esquecer.


A mulher grávida anda e chora
Com suas mãos segurando, tentando conter.
Um vivente que quer ver o mundo afora
Com seus próprios olhos conhecer.


Começou de novo o que ficará velho
De todos os choros, o melhor é o de nascer.
No universo de estrelas, um centelho.
Abriu, brilhou e agora vai escurecer.


Henrique Rodrigues Soares – O que é a Verdade?

domingo, 9 de janeiro de 2011

Japeri
















Acordas bem cedo!
Tem que trabalhar
Está bem longe, acanhado,
Escondido no final da baixada.


Madrugadas frias
Com ruas de terra e um verde calado
Cinza de pouca esperança
Passos miúdos e apressados
De um povo que corre
Como as águas do Guandu
Num ritmo suave que nunca pára.


O sol acorda os montes
E ao redor da ferrovia
Tudo desperta e se mexe
Com espreguiçar de quem não se espera muito.
As crianças brincando de bola,
Soltando pipa e indo para escola.


Poucas ruas asfaltadas
Com casas longas e outras apertadas
Algumas tão pobres, outras como rosto de moça rica pintada.
Aonde os animais vivem em harmonia com humanos.
E humanos que vivem como animais ajuntam seus pertences
Para próximo acampamento noturno.


Ao chegar da noite
Tuas noites têm estrelas
A criançada brinca pelas ruas descalçadas
Sem se preocupar com o amanhã.
A lua brilha achando graça
Junto com as moças nas acanhadas praças,
Que não tem hora para adormecer.


O povo vai descendo dos trens
Com bolsas, sonhos e cansaço
E logo adormece pequena cidade
Do meu coração.
As casas cheiram silêncio
As ruas cheiram escuridão
Esperando o nascer de um novo dia
Com sua rotina repetitiva.


Henrique Rodrigues Soares – O que é a Verdade?